Por CBTM
Com R$ 4 milhões a mais do que as previsões iniciais de recursos da Lei Piva para 2009, a estratégia foi simples: não mexer no bolso de quem já tinha muito e adoçar a boca de quem andava insatisfeito. As cifras finais da meritocracia estabelecida pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) na divisão da verbas de loterias federais foram apresentadas às confederações ontem à tarde, desta vez sem grandes queixas. A novidade da reunião ficou por conta dos novos planos de metas, com informações detalhadas sobre projetos e previsões de conquistas esportivas, a serem apresentados já no início de 2009 e que serão trazidas a público pelo próprio COB. Ou seja: quem não subir ao pódio vai sair mal na foto e pode ficar com o pires na mão no ano seguinte.
— É uma discussão nova no esporte brasileiro — afirmou o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman.
— Todo mundo tem suas metas, sabe exatamente onde pode chegar. E agora isso vai ter de ser exposto publicamente. Não podíamos pôr os atletas sob pressão num ano olímpico, dizer que tinha de chegar e ganhar. Mas agora são quatro anos no ciclo olímpico. Ninguém vai poder reclamar que não sabia.
Dirigentes rechaçam fim da “eternidade”
Na prática, os atletas vão continuar pagando a conta por más administrações e agora ficarão ainda mais expostos na hora das cobranças.
A intenção do COB, que analisará todas as metas traçadas pelas confederações, com autonomia para mudá-las, além da obrigatoriedade de cumprir e apresentar seus próprios objetivos. O assunto vinha sendo discutido entre o comitê e o Ministério do Esporte desde os resultados abaixo do esperado da delegação brasileira nos Jogos de Pequim, ao fim de um ciclo no qual foram investidos mais de R$ 692,58 milhões dos cofres públicos (num custo aproximado de R$ 53 milhões por medalha conquistada em Pequim, fora as do futebol, modalidade que não recebe verba federal).
Há em Brasília uma pressão cada vez maior para que o ministério não se limite a assinar o cheque e tenha participação mais direta nas decisões envolvendo a divisão do bolo. O deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) há meses vem lutando pela abertura de uma CPI sobre os investimentos no esporte.
Se a distribuição das verbas da Lei Piva já não gera tanto descontentamento com as novas cifras apresentadas ontem e o plano de metas surge como veículo para dar mais transparência ao uso das verbas, ministério do esporte e cartolas ainda divergem num ponto: o fim das reeleições sucessivas nas entidades esportivas.
O ministro Orlando Silva deixou clara, na última segunda-feira, sua vontade de criar mecanismos para condicionar o repasse de recursos federais à democratização das confederações, limitando a uma reeleição a permanência máxima no cargo. Na presidência do COB desde 1995, depois de dirigir a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) por 21 anos, Nuzman cita um exemplo europeu para sustentar o desejo de se perpetuar no poder.
— É um direito do ministro de dar sua opinião — disse ele. — Mas queria lembrar que recentemente a Espanha elegeu três presidentes de federações internacionais e dois vices.
E não foi limitando tempo de mandato que conseguiram isso. Foi com trabalho, mérito e prestígio internacional e isso leva tempo.
Aliados de peso de Nuzman, como o presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Coaracy Nunes, no cargo há 20 anos, e Ary Graça, presidente da CBV desde 1997, afirmam que uma lei do gênero deveria limitar também reeleições de deputados, senadores e, principalmente, presidentes de ONGs, que são remunerados, recebem verbas públicas e se reelegem repetidas vezes.
— Há quanto tempo o Viva Rio tem o mesmo presidente? Se é para fazer lei, que seja para todo mundo — argumenta Ary Graça.
— Se tiver salário, presidente de confederação esportiva vai até preso — dispara Coaracy. — Se um dirigente for ruim, ele não vai continuar no cargo. Dirigente só engana determinado tempo.
O único a defender o que Orlando Silva chama de “oxigenação” das entidades esportivas foi o recém-reeleito presidente da Confederação Brasileira de Lutas Associadas (CBLA), Pedro Gama Filho. No que diz respeito a se eternizar no poder, até opositores ferrenhos, como o presidente da Confederação Brasileira de tênis de mesa (CBTM), Alaôr Azevedo, apóiam Nuzman.
— Você acha que o Ricardo Teixeira traria a Copa para o Brasil com um mandato? — Indagou Alaor.
Em tempos de mais uma candidatura olímpica do Rio, todo peso político no exterior é sempre bem-vindo.
Mas os argumentos a favor do continuísmo levantam uma questão: afinal, os recursos públicos são para formar novos atletas ou dirigentes de federações internacionais?